Agropecuária
desenvolvimento
Os gargalos da produção agrícola familiar para chegar aos supermercados do Piauí
Falta de produção organizada, constante e em larga escala prejudicam o acesso aos consumidores urbanos
Robert Pedrosa - redacao@pinegocios.com.br
Ocupando 518 mil pessoas no Piauí, a agricultura familiar movimenta R$ 1,2 bilhão por ano, segundo o Censo Agropecuário do IBGE. A atividade, no entanto, poderia gerar muito mais retorno para os pequenos produtores rurais caso alguns gargalos fossem resolvidos.
O alimento produzido por meio da agricultura familiar sofre certa dificuldade em conquistar espaço nas mesas dos piauienses da zona urbana e nas prateleiras dos grandes centros de distribuição. O difícil acesso ao mercado e a diferentes canais de venda é uma barreira que, muitas vezes, limita o potencial de crescimento e expansão desses empreendedores rurais.
“A agricultura familiar é dinâmica e complexa. Ela tanto atende à subsistência como faz uma comercialização periférica próximo às hortas ou dentro dos mercadinhos em suas próprias cidades. Os agricultores atendem os clientes que vivem em seu raio de moradia, mas ainda têm dificuldade de chegar em outros mercados”, explica o diretor de comercialização e inovação da Secretaria de Estado da Agricultura Familiar (SAF), Tiago Patrício.
Para José de Arimatéa da Silva, superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) no Piauí, a produção individual é uma das questões que dificultam as vendas da agricultura familiar. Isso porque, quando não se está inserido em algum tipo de associação ou cooperativa, os agricultores não conseguem produzir em larga escala, o que afeta a disponibilização de produtos agrícolas de forma contínua no mercado.
“A produção individual tem trazido muita dificuldade para a comercialização, porque os compradores buscam adquirir os produtos em volume acentuado. Eles compram todos os dias ou a cada dois dias. Quando se trabalha de forma individual, não há como haver essa manutenção de produção em larga escala, que é o que o mercado exige”, explica.
Dessa forma, a ausência de escalonamento, ou seja, a falta de produção de acordo com a necessidade do mercado, faz com que esses produtores não consigam interagir continuamente com o comércio durante todo o ano, por exemplo. Além disso, outro desafio está relacionado à forma de produzir. De acordo com José de Arimatéa, alguns sistemas de irrigação e preparo de terra precisam passar por atualizações, a fim de que a colheita seja mais eficaz.
“É preciso orientar sobre a forma como eles estão agricultando, principalmente a questão do sistema de irrigação e vocação do local de produção. Para combater isso, nós implantamos projetos que ajudam na análise do solo para verificar o que se pode produzir no local e também fazemos análises de mercado para entender o que a população no local costuma comprar”, aponta o superintendente.
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Esse tipo de orientação é essencial para garantir que novas ideias e tecnologias sejam levadas aos agricultores rurais que, muitas vezes, não têm acesso à educação básica, como apontado pelo Censo Agropecuário de 2017, que informa que cerca de 30% dos agricultores familiares nunca frequentaram a escola.
“O produtor rural está concorrendo diretamente com o grande produtor, pois dentro do mercado não existe essa diferença. Nós buscamos trazer uma formalização para esses agricultores e romper esses desafios, fomentando uma revitalização na forma de produzir”, acrescenta José de Arimatéa da Silva.
Projeto leva produtos da agricultura familiar a supermercados do Piauí
Visando fortalecer fortalecer a agricultura familiar e romper as barreiras de sua comercialização, a Secretaria de Agricultura Familiar lançou o projeto Quitanda Super. A ideia é que os produtos agricolas sejam comercalizados nas prateleiras dos Supermercados do Piauí e atinjam os consumidores dos centros urbanos.
O projeto-piloto foi lançado no dia 2 de agosto, em parceria com o Grupo Vanguarda, que administra a rede Carvalho Super no Estado. Neste primeiro momento, oito cooperativas de agricultores estão participando do projeto. Para o lançamento, o Grupo Vanguarda adquiriu cerca de R$ 60 mil em produtos como mel, doces, farinha, rapadura, óleo de coco babaçu, entre outros.
Tiago Patrício explica que a expectativa é que o projeto gere grande movimentação financeira, beneficiando os agricultores familiares. “Nossa primeira Quitanda Super foi inaugurada há duas semanas e já tivemos um segundo pedido. A expectativa é que seja feito em torno de R$ 100 mil em pedidos todos os meses”, destaca.
Ao todo, a rede Carvalho Super conta com 26 supermercados. Posteriormente, a gôndola de produtos agrícolas deve chegar a todas as lojas da rede. Além disso, até o final do ano, 15 cooperativas devem estar participando do projeto. “Queremos abranger o maior número de pessoas. Existem muitas cooperativas, mas algumas ainda precisam ser bem trabalhadas e organizar questões administrativas como certificação e código de barras”, detalha Tiago Patrício.
O diretor de comercialização da SAF aponta ainda que, nos próximos meses, outros tipos de produtos agrícolas passarão a ser oferecidos no Carvalho Super, como a cajuína, polpas de frutas e cortes de carnes como carneiro. Para 2024, a meta é chegar a 15 lojas do Carvalho Super, disponibilizando 150 diferentes produtos oriundos da agricultura familiar. “Estamos trabalhando em vários aspectos para que a agricultura familiar esteja presente nos mercados mais exigentes”, destaca.
A inauguração da Quitanda Super aconteceu no Carvalho Super localizado na Av. Homero Castelo Branco, zona Leste de Teresina. No local, estiveram presentes o governador do Piauí, Rafael Fonteles, representantes das cooperativas de e outras autoridades políticas. “O grande desafio para o agricultor familiar é a comercialização, acessar os mercados, e quando a gente acessa o mercado, ele vende mais, e consequentemente, ele tem mais chances de melhorar a sua produção e sua produtividade. Esse é um passo mais que importante, que é fazer com que a gente conecte os compradores, com o mercado local”, disse o governador.
Durante o evento, o diretor-presidente da Cooperativa Central de Cooperativas de Cajucultores do Estado do Piauí (COCAJUPI), Jocibel Belchior, destacou que a iniciativa é uma grande oportunidade para a agricultura familiar. “Chegar em uma rede de supermercado tão grande como essa é uma grande chance para nós. Precisamos que a população do nosso estado conheça melhor os nossos produtos”, apontou o diretor.
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